por tempos
que não determinei
a vi envolta
na fumaça
que se produzia
na cozinha.
o ritual dos afazeres
era embalado pelo seu canto
por cima do balcão havia sempre folhas estranhas
que não podia eu tocar
os caldeirões fumegavam,
a cor das brasas me atraiam o olhar,
a cor negra de sua pele também.
alguns a chamavam sacerdotisa. eram seus, os tambores das noites.
mas eu sentia que suas mãos podiam salvar e podiam matar.
gostava do barulho, das brasas, de ficar na cozinha
de ouvir o canto baixinho e repetido:
"sou de nanã, êaaa,êaaa êaoooo, sou de nanã!..."
guardei os traços do seu rosto como uma imagem presa a uma parede.
guardei o som que mais tarde
ouviria nos cultos aos orixás...
em terreiros de outras sacerdotisas.
mas sei:
nanã andou envolta na fumaça daquela cozinha...
como a proteger.me do destino.
foto de Alba Luna