imagem de hispanico

sábado, 20 de janeiro de 2007

porto partido


ao porto ali
cheguei no exato instante
no exato tempo dos falsos milagres
o homem não é mais árvore
agora seu símbolo
é um mero símbolo
escurecido de fumaça-motor
sem sentido de ser
meu desafio era o porto
meu corpo ali
minha mente no movimento
pois que dali iria partir
e via no porto
gosto amargo mal governado
alianças inescrupulosas
intolerantes homens
imorais e alheios pensamentos
estranho caráter do homem
que separou.se da natureza
sofrimentos e sombras
deixei no porto
quando parti...
foto de paulo cesar

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

apanhador de almas


chamam.me apanhador
eram centenas delas
almas que um dia vi
o lugar grande, árvores centenárias
concreto, terra,
escura e esfumaçada terra
todo o lugar
história de um tempo
eram muitas as almas
lembro.me
ouvi.as,
vi.as
estavam lá ansiosas
eu apanhava cada uma delas
trazi.as com minhas mãos
caminhavam para o lado
em que morno era o sol
era o outro lado
que deixava.as
as almas intensas
surreal dia em que vivi
de pé
ao portão com centenas de almas
faces...voltadas para o branco céu
eram almas...sem morte
só almas que a mim cabia
levar para o outro lado
deixei.as ao fim daquele estranho dia
.....
mas,
ainda
chamam.me apanhador
pois que um dia
fui apanhador de almas
foto Ilona Wellmann

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

estação de voz vazia


na estação
lutei contra o vento
seu barulho me ensurdecia
sua força contra meu rosta batia
precisei vencer o nevoeiro
que escondia pessoas
o minuto que deixava, vagarosamente
de ser madrugada
posto que já amanhecia
na estação
vozes por todos os lados
em mim uma voz vazia
um silêncio que ninguém ouvia
tateio a escada
ainda tenho as chaves de casa
entre os dedos
mas a casa ficou pra trás
agora sou eu, a estação
e os trilhos da estrada vazia.
foto Cosmin Bumbut

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

a ponte e as pedras


era mesmo longa e alta
a ponte que avistei no fim da vila
e lenta a rotação da água
maré sem onda
maré sem barulho
percebi que entrei no mundo pelo fundo
e antes que a luz fugisse
sentei a escrever,
despedida...
concedi meu tempo por inteiro
por um tempo inteiro
vi o mundo aos retalhos
deixei tudo para trás
sentado na ponte ocultei o céu
espantei o frio do fim da tarde
já não ouvia mais o sino
vi as pedras
a lembrar.me que
aqui não é o meu lugar
deixei a ponte, deixei os retalhos,
a terra de chão batido,
o som do meu sino...
mais tarde descobri que trouxe o peso das pedras
que da ponte eu vi.
foto Bartek B

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

luz de âmbar


no vaso de pedra continha âmbar
clareava o ambiente
mantinha a luz do meu lugar
o âmbar amarelo
a queimar as dores aprisionadas
acesa era o brilho da noite
que atravessei sentado na proa do barco
sua luz afastou o mal, curou.me
a noite caída
mergulho nas minhas raízes
deixo a fonte do âmbar ser a luz
no negror daquela madrugada
a força do âmbar ressucita.me
no meio do mar
condenado ao absurdo
uso a singular luz do meu âmbar
para mudar o destino

sábado, 6 de janeiro de 2007

minha noite


a noite é uma poesia
eu poderia escreve.la de mil formas diferentes
e ainda assim
estaria sendo verdadeira - a minha noite
e todas, seriam encantadoras.
por hora a sinto, a respiro...
a noite possui uma característica
diferenciada do dia:
a noite posso esconder.me
esconder segredos e angústias
que não quero dividir.
mas, a noite é tão real que a inverdade
não cabe e não se alastra
a noite, a noite transporta.me....
fotografia de n.