domingo, 21 de outubro de 2007
rua de sombras e risos
quarta-feira, 18 de julho de 2007
cresci...assim
Cresci
sentindo o cheiro do óleo do navio
tocando as cordas e suas espessuras diversas
observando o movimento dos marinheiros
ouvindo o ruído do cais do porto
cresci
querendo ser forte como o casco do navio
ecperimentando a sensação nauseante
a sensação do balanço que o mar
provocava no meu corpo
cresci
desejando conduzir navios
em meio ao cheiro do óleo
ao movimento dos homems
aos nós das cordas
cresci querendo o mar só pra mim.
sábado, 20 de janeiro de 2007
porto partido
segunda-feira, 15 de janeiro de 2007
apanhador de almas
sexta-feira, 12 de janeiro de 2007
estação de voz vazia
terça-feira, 9 de janeiro de 2007
a ponte e as pedras
segunda-feira, 8 de janeiro de 2007
luz de âmbar
sábado, 6 de janeiro de 2007
minha noite
domingo, 31 de dezembro de 2006
o homem que contempla
longe...um pequeno ponto
avista-o ... é o horizonte
enorme é a extensão do mar...
contempla-o
...o modo de ver o mundo, tão seu.
olhar atento
solitária viagem
o fardo: o ir, o vir
a certeza do ir,
a incerteza do vir
sobrevive se vê, o homem que vai ao mar,
se enxergar com os olhos do espírito
- a inocência da alma -
homem do mar
vê, se vê contempla
medita enquanto percorre
o extenso vazio mar
solitário
e se perder as graças no mar?
está no mar o sustento
na solidão recorda os fragmentos
e lembra que vê
se vê contempla
atravessa a névoa
vence o vento
o homem do mar
nas trevas...
no sol...
na névoa.... quer voltar
experimenta toda a liberdade
de ver
de contemplar.
quarta-feira, 27 de dezembro de 2006
visibilidade
e as mentes pareciam dormitar
era a idéia de ver que eu perseguia
segunda-feira, 25 de dezembro de 2006
o quintal...os lençóis...o labirinto
corria eu pelo quintal naqueles dias negros
eram tantos os lençóis
sábado, 23 de dezembro de 2006
O relojoeiro
O tempo, esse inexorável tempo
precisava de um guardador
o homem pequeno e sereno
o contador
do tempo... esse inexorável tempo.
o homem pequeno
mede a vida
no passar das horas
O relojoeiro
o homem que guarda o tempo
tempo vivido de dor
tempo querido de amor
O relojoeiro
o homem pequeno
o falante homem do tempo
aquele que o vigia
homem das palavras contadas
protege os mistérios do tempo
segura-o nas mãos
esconde-o da vida
entrega-o na morte
O relojoeiro
homem pequeno e falante
zeloso do tempo
vive entre nós
dosando vivência
em pedaços de tempo
que não conhecemos
Mas o relojoeiro
ele sim conhece-o...
o tempo esse inexorável tempo
O relojoeiro
o pequeno homem falante
vigilante do tempo
vive entre nós
na missão de ser o
guardador do tempo.
sexta-feira, 22 de dezembro de 2006
vila operária
sexta-feira, 15 de dezembro de 2006
Lais de Guia
se quero uma vida é preciso roubá-la
e assim viver
sem amarras
o plano será sempre arriscado
a chave...
saber que és a coisa mais terna
que encontrei
uma sanha de correntes...
um intervalo conexo
fiz raiz
atravessei fronteiras do desconhecido
e inundei-me de argumentos
para não me separar de ti
desfiz amarras
aquém, além de mim,
extremidades livres
fácéis de fazer
difíceis de esquecer
e fugi
ao destino
reservado
destruí o nó recorrente
real e maduro
fiz um nó...outro ...uma conexão,
e tornei.me barco a deriva
de um amor ...meu guia.
foto de antonio guerreiro
*lais de guia é um nó confiável, rápido e fácil de fazer.
terça-feira, 12 de dezembro de 2006
passos...pensar...
um
avistava o mar
enquanto andava pensava
onde mágoa seja uma lembrança distante?
vi num papel esquecido num balcão
era o conflito dos homens
não fui.
nos sonhos de hoje ainda lembro o dia que indaguei.me:
a saudade do meu pensar
segunda-feira, 11 de dezembro de 2006
terra ... passagem
ouvir
o
silêncio.
ouvi
o
silêncio
das folhas...
.....
de um pedaço de terra
fiz passagem
destino selado mais a golpes
do que gestos em lume...que aliviassem
declarei guerra a intolerância.tinha medo
naquela época, do esquecimento ou de jamais poder deslembrar
tive medo...
enquanto caminhava pelas veredas,
pelos bosques.
não me sabia pertencer a qual espaço
me sentia de tantos lugares
me sentia preso a tantos destinos...
mas desejava-me dissidente...
assim e tão somente
buscava momentos de solidão
onde os meus sonhos, moldados, livres
sem ninguém a percebe-los.
usava a bruma das noites frescas do inverno
para arrefecer.me o medo
conhecer.me alma e corpo
natureza e pensar...
sabia.me transgressor
das realidades diante e ao redor de mim...
elas eram parte viva e latente
poderosamente latente
de minha vida
cabia.me aprender a usá-las.reconhece.las.
saber ve.las até mesmo sem olhar.
foto de alexandre costa
quarta-feira, 6 de dezembro de 2006
o pescador
era um pescador
o homem que me ensinou a amar o mar
o via de cócoras na porta do seu casebre
remendando a grande rede
um negro alto
de mãos grandes
de olhos profundos
cheirava a mar
com a rede as costas
caminhava a passos lentos
em direção à prainha
descalço, sempre.
na ponte de madeira
eu me deitava para pegar siris
tinha minha redinha
era sempre no fim da tarde
na grande ponte de madeira
ao lado da prainha...
ali ouvia o sino dobrar as seis horas
via o entardecer
ouvia as suas histórias
as ondas do mar bater levemente
ele cozinhava pra nós alguns siris
e assistíamos o sol deixar o céu.
meu amigo pescador me dizia:
- agora é hora dele ir ...
clarear outras bandas
outras terras ...
outras gentes...
domingo, 3 de dezembro de 2006
do lugar que parti
ser alma sossegada
desejar a chuva na seca cíclica
silêncio de mata
cores da mata dentro de mim
sem tempo demarcado
minha humanidade pus a prova
em meio a um caos vivido
lívido e presente
meus momentos tão diferentes de outros
estranho me sentia porque sabia
enxerguei luz onde não havia
imaginária ou real
a quem importava?
meus símbolos , meus signos, meu inconsciente
condenou-me
tinha eu de saber
metade dos céus dentro de mim
metade do inferno vivendo aqui
fiz da solidão, da seca, do caos
ritual de vontades.
livre, quando me senti
fui embora e não olhei
para o que restava de mim naquele lugar.
não encontrei o autor da foto
sexta-feira, 1 de dezembro de 2006
esconderijo
olha comigo do meu esconderijo....
houve uma vez um local.
encontrei-o abandonado,
no meio do nada.
não pertencia a ninguém.
lá
desenhava minha realidade,
buscava entender o vazio.
do que se ocupava o vazio
dentro de mim?
precisei do silêncio
tempo demais...
enquanto isso,
debruçava.me nas páginas
de palavras de outros.
esforço para saber:
amei muitas coisas
que as não há no mundo.
o que teria em comum eu e aquele lugar?
aquela luz?
ali?
por muitas vezes, ali,
alinhei minha linguagem
no papel
e foi a vida,
coisas de que são feitas coisas,
que discorri
solto,
na luz tênue
daquele lugar
o tomei pra mim.
terça-feira, 28 de novembro de 2006
a sacerdotisa
por tempos
que não determinei
a vi envolta
na fumaça
que se produzia
na cozinha.
o ritual dos afazeres
era embalado pelo seu canto
por cima do balcão havia sempre folhas estranhas
que não podia eu tocar
os caldeirões fumegavam,
a cor das brasas me atraiam o olhar,
a cor negra de sua pele também.
alguns a chamavam sacerdotisa. eram seus, os tambores das noites.
mas eu sentia que suas mãos podiam salvar e podiam matar.
gostava do barulho, das brasas, de ficar na cozinha
de ouvir o canto baixinho e repetido:
"sou de nanã, êaaa,êaaa êaoooo, sou de nanã!..."
guardei os traços do seu rosto como uma imagem presa a uma parede.
guardei o som que mais tarde
ouviria nos cultos aos orixás...
em terreiros de outras sacerdotisas.
mas sei:
nanã andou envolta na fumaça daquela cozinha...
como a proteger.me do destino.
foto de Alba Luna
segunda-feira, 27 de novembro de 2006
dias de cárcere
naqueles dias
os conflitos eram intensos.
homens com pés castigados
famintos, de muitas fomes.
mulheres desesperadas
rogavam ao sol,
rogavam na igreja
mas os homens de poder
arrastavam os homens de suas mulheres
valas, celas, buracos, estradas sem retornos.
rogavam as mulheres à lua
esquecidas das panelas,
esquecidas de dar o peito
as crianças sedentas viravam espantalhos.
naqueles dias de cárcere
de lágrimas que queimavam as faces,
de tão choradas e incontroláveis
eu fugia a esconder.me dos homens de roupas verdes,
de paus em punho: incendiários de vidas.
assisti a primeira derrota na contínua luta
do sempre contra o jamais.
foto lara pires
domingo, 26 de novembro de 2006
os trilhos
usei as velas
companheiras da avidez da leitura
que me consumia os dias de vida
queria encontrar os legados
me soube pertencente
de um lugar
de um povo
de uma terra
aonde mataria fomes e sedes
já pensava
tão tenra idade
assisti as travessias muita gente...
muita gente
a atravessar
trilhos urbanos
cheirando óleo
um cheiro que não se esquece.
odor que cedo assimilei.
sábado, 25 de novembro de 2006
vi fios tecidos
habilmente tecia
enquanto remungava cumprimentos
as mãos impressionava.me
todos os dias
às horas da tarde...
uma curiosidade aguçada
queria eu entender o mundo
interior das mãos que teciam a beira da calçada.
todo domínio.
ouvia de longe rezas que não compreendiam
o movimento das mãos, tão iguais...
o sol era morno àquela hora da tarde.
pensei na desordem! suas rezas não a protegeram.
a arrancaram da cadeira porque lhe tremiam os nervos.
e seus fios se perderam no vento que soprou.
foto de Carlos C.
sexta-feira, 24 de novembro de 2006
os vidros da infância
igualdade
medida do que herdei
o sagrado ritual
magia
através das janelas
relembranças
diversidades de minhas expressões.
então pensava...
partir de nós para chegar a nós próprios.
o que via no vidro da infância?
aprendia os sentidos, os sentidos pelos sentidos.
somei-os mas, assegurados
senão muito duvidoso e incerto.
vi. nos vidros das janelas.
inventividade dos antepassados.
foto maktub
quinta-feira, 23 de novembro de 2006
os vultos que vi
vi vultos saindo de todos os lugares.
aprendi que nenhum lugar é aqui,
a menos que sua sombra não queira estar.
vi vultos vagando por aí
a procura do bem,
mas no asfalto vão dar
e se de mim saíam vultos
como vou me encontrar?
agora não sei se estou aqui,
ou se isso é um inferno,
ou não quero enxergar,
ou se os vultos a vagar
me permitirão passar .
começo a contar os dias... quero lembrar.
foto miguel lopes